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Contra o sectarismo

Ruptura com a Liga Comunista

*Texto encaminhado pelo companheiro Erwin Wolf

O objetivo do presente é esclarecer os motivos da minha ruptura com a Liga Comunista. Em razão do sectarismo de sua liderança, manifestamos internamente apenas a principal divergência, aquela que foi a gota d´agua, vamos dizer assim, da ruptura, pois tínhamos em mente o ensinamento do Programa de Transição: “Os bolcheviques-leninistas podem, sem perder o seu tempo, abandonar traquilamente estes grupos à própria sorte.” Em seguida, abordarei todas as divergências.

Durante praticamente quase duas décadas fui simpatizante da Liga Bolchevique Internacionalista – LBI, principalmente pela defesa dos Estados Operários ainda existentes, no meu ponte de vista, ou seja, Cuba e Coréia do Norte, porém jamais cheguei a ingressar em tal organização por causa de divergências com relação ao posicionamento da LBI em se colocar contra a palavra-de-ordem de frente única anti-imperialista – FUA, ao dizer que tal bandeira foi elaborada por Bucarin, nas chamadas Teses do Oriente, no IV Congresso da Internacional Comunista. Todavia, durante os quatro primeiros Congressos da Internacional Comunista, ou seja, a III Internacional, sabia que Lenin e Trotsky lideraram todos os trabalhos, os trotskistas são sempre pela FUA, ou seja, sabia que era revisionismo puro do “Mestre da LBI”. Além disso, discordava da política da LBI de seguidismo ao PSTU, em razão da Conlutas em contraposição à CUT, porque a posição trotskista, comunista, é de intervenção em todos os sindicatos e (centrais também) até aqueles com direção fascista. Isso aprendi bem cedo, porque quando era militante da OSI (Organização Socialista Internacionalista) rompi com esta organização porque a seção francesa do CORQUI (Comitê de Reconstrução da Quarta Internacional), ou seja, a OCI (Organização Comunista Internacionalista), dirigida por Pierre Lambert, combatia os companheiros da organização chilena que atuavam no que sobrou dos sindicatos chilenos durante a ditadura de Pinochet. 

Assim, em razão disso tudo nunca ingressei na LBI.

Posteriormente, houve defecções na LBI, que acabaram dando origem à Liga Comunista.  É importante isso. Notem bem: a LC é filha da LBI. 

A LC estabeleceu relações com o Socialist Fight da Inglaterra, que elaborou uma brochura defendendo a Frente Única Anti-imperialista, o que proporcionou uma evolução da LC, uma superação programática em relação à LBI.

A partir daí passei a considerar o meu ingresso na LC, o que acabou acontecendo.

Restou a questão dos sindicatos, que acabei influenciando, ou seja, a necessidade de intervenção nos sindicatos, nas centrais, rompendo com o seguidismo da LBI e LC ao PSTU.
Depois que ingressei na LC, esta, infelizmente, perdeu, por problemas de saúde, um militante muito bom e experiente da categoria dos bancários, que tinha sido militante da Liga Estratégica Revolucionária (LER).  Isso atrapalhou o desenvolvimento da LC. A presença deste militante dava o equilíbrio necessário para a LC continuar evoluindo, mas infelizmente, com a sua saída, começou a desenvolver na principal liderança da organização as tendências sectárias trazidas da origem (LBI), que ficaram adormecidas após a ruptura com o “Mestre”, mas que afloraram com a saída do militante em questão e acabaram agravadas devido ao isolamento da organização.

Para resumir, a partir das eleições os candidatos da LC, que saíram pela legenda do PCO, foram algumas vezes atacados e pressionados pela liderança, porque havia a paranoia absurda de que fossem eleitos e debandassem (obs: não fui candidato).  Realmente um coisa sem noção (adoro os jovens, que criatividade !), quando sabemos que, no circo eleitoral, para eleger um mísero vereador há necessidade de rios de dinheiro, sendo que a LC não tinha um “puto”. No último período isso se agravou, com a referida liderança, aprendiz de feiticeiro formada pela LBI, dileto representante do “Mestre”, passou a fazer cobranças do tipo: e aí, fez a tarefa, tá quebrado ?  A hora que o mestre souber disso, com certeza, vai ficar orgulhoso !  Fui criticado também porque defendi a intervenção no PT de São Bernardo do Campo. Fiz uma defesa apaixonada disso. E não me arrependo. Só esclareço que não sou candidato a nada, sou diabético insulino-dependente, cardíaco e hipertenso, e tenho quase 60 anos, não tenho condições físicas e de saúde para suportar uma maratona de campanha eleitoral. A defesa apaixonada que fiz visava demonstrar a necessidade do militante marxista ser um tribuno popular, um dirigente de massas, como Leon Trotski, Paul Levi, Karl Liebnecht, ou organizador como Leo Jogiches e Sverdlov. Só isso !  

O período pós-eleitoral coincide com a formação do que é hoje a Frente Comunista dos Trabalhadores, com alguns grupos (somente uma observação: aqui está havendo a inversão do método de Lenin em “Que fazer?”, ou seja, ao invés de discutir primeiro para se unir, estão se unindo sem aprofundar as divergências que são muitas, por exemplo, há grupo que considera  Rússia e a China imperialista, outros que não; tem grupo contra o centralismo democrático; grupo que defende trabalho com policiais, apoiando “greve”, motim de policiais, e por aí vai. A tendência disso é implodir de uma ora para outra, ou até mesmo degenerar num federalismo. Vou dizer uma coisa, mas com todo respeito aos militantes da FCT, a composição desta lembra a I Internacional, o que demonstra que a tarefa colocada não é fácil). Mas toda essa discussão confesso que não quis entrar.  Não me sentia mais a vontade, bem como entendia que não tinha sentido trabalho fracional. Seria uma coisa sem noção, como dizem os jovens (eles de novo !).

O sectarismo somente poderá levar ao “existismo” por um certo período ou a falência completa da organização, a sua extinção. E o pior é que poderá arrastar os demais grupos da FCT. 

“Sob a influência da traição das organizações do proletariado, nascem ou se regeneram na periferia da Quarta Internacional, grupos e posições sectárias de diferentes gêneros. (...) Para os sectários, preparar-se para a revolução significa convencerem-se das vantagens do socialismo. Propõem voltar as costas aos “velhos” sindicatos, isto é, dezenas de milhões de operários organizados, como se as massas pudessem viver fora das condições da luta de classes real ! Permanecem indiferentes à luta que se desenvolve no seio das organizações reformistas como se pudéssemos conquistar as massas sem intervir na sua luta diária ! (...).”

“Os sectários são capazes de distinguir somente duas cores: o branco e o preto. Para não se exporem à tentação, simplificam a realidade. Recusam-se a estabelecer uma diferença entre os campos em luta na Espanha pela razão de que os dois campos têm um certo caráter burguês.”

A gota d´água, onde o bicho pegou, foi a liderança da Liga Comunista, com certeza, influenciada por ex-militante do PSTU, como que enxergando, vislumbrando um espécie de “Soviete de Cantão caipira”, desenvolver no último período uma versão requentada, caricata, e bizarra da “Teoria das Novas Vanguardas”.  Quando na Reunião Nacional da FCT foi colocado isso, estava com a cabeça abaixada, e imediatamente a levantei e encarei tal liderança com muita surpresa. Esta foi a única divergência que manifestei para o meu desligamento por ter sido a gota d´agua e entender sem sentido uma luta fracional. Pois bem, incapazes de fazer um trabalho marxista revolucionário sistemático no seio do movimento operário e popular, tendências pequeno-burguesas desenvolveram e desenvolvem “teorias” revisando o marxismo, enxergando “novas vanguardas” em substituição à classe revolucionária, o proletariado. Daí o foquismo, a guerrilha, e outros métodos de luta estranhos ao método de luta do proletariado. Agora, uma versão bizarra da “Teoria das Novas Vanguardas” foi desenvolvida pela LC. Impressionada com o surgimento do jovem e combativo proletariado do interior do Estado de São Paulo, com uma visão bem pequeno-burguesa a LC está dizendo que este jovem proletariado é combativo, o que realmente está certo, porque não conquistou as condições materiais que o proletariado do ABC, sendo este de classe média (operariado classe média, que conceito marxista! Deve ser conceito “marxista” do sociólogo Emile Dirkheim!), porque conquistou boas condições materiais. 

Esta análise de cunho eminentemente morenista é só pode ser fruto de militante egresso dos quadros do PSTU. Daqui uns dias no “Soviete de Cantão Caipira” poderá surgir uma Brigada Simon Bolivar ! Lembram-se ? Ah, não vocês não são dessa época. Isso não tem nada de análise marxista, sendo impressionismo pequeno-burguês, por manifesta e total desconhecimento da classe operária do ABC, porque, com certeza, em algumas cidades do Grande ABC as condições de trabalho e material da classe operária é pior do que as do interior. Por exemplo, as condições de trabalho nas indústrias químicas de Diadema são terríveis. Assim como, nas indústrias de Mauá, polo petroquímico. O problema não é a classe operária do ABC, o problema é a sua direção burocratizada. Se fossemos levar essa “teoria” até às suas últimas consequências, o que o faremos apenas demonstrar o seu absurdo, se se levasse em consideração as  condições materiais dos operários e trabalhadores, nos EUA e na União Europeia, onde existem países avançados, imperialistas, que em determinados momentos têm condições de proporcionar melhores condições de trabalho e materiais ao proletariado, a revolução socialista seria inviável!

“Incapazes de se mostrarem acessíveis às massas, estão sempre dispostos a acusá-las de serem incapazes de se elevarem até às ideias revolucionárias.

(...) “Os acontecimentos políticos são para eles ocasião de fazer comentários, mas não de agir. Como sectários – assim como os confusionistas  e os fazedores de milagres de toda espécie – recebem a cada momento chicotadas da realidade, vivem em estado de continua irritação queixando-se sem cessar do “regime” e dos “métodos” e entregando-se a intrigazinhas. Em seus próprios meios exercem, ordinariamente, um regime de despotismo. A prostração política do sectarismo apenas completa, como sua sombra a prostração do oportunismo, sem abrir perspectivas revolucionárias. Na prática política, os sectários unem-se aos oportunistas,  sobretudo aos centristas, para lutar  a todo instante contra o marxismo.”

Ainda, no que tange ao trabalho no interior, muito importante, detectamos sectarismo na intervenção, porque tal trabalho não se desenvolve como deveria. Há ainda, o chamado “pretigismo operário” que a LC fala com relação ao PSTU. Casa de ferreiro espeto de pau, ou seja, que o PSTU bajula os operários: “operário líder é Deus !”.  A LC faz o mesmo!

Assim, para terminar este documento, concluo com o Programa de Transição:

A maioria dos grupos e grupelhos sectários desse gênero, que se alimentam das migalhas caídas da mesa da Quarta Internacional, levam uma existência organizativa “independente”, com grandes pretensões, mas sem a menor chance de sucesso. Os bolcheviques-leninistas podem, sem perder o seu tempo, abandonar traquilamente estes grupos à própria sorte. Entretanto, as tendências sectárias encontram-se também em nossas própria fileiras e exercem uma funesta influência sobre o trabalho de certas  seções. É impossível continuar contemporizando com eles, seja por um único dia. Uma política justa quanto aos sindicatos é um condição fundamental para se pertencer à Quarta Internacional. Aquele que não procura nem encontra o caminho do movimento de massas não é um combatente, mas um peso morto para o partido. Um programa não é criado para uma redação, uma sala de leitura ou um clube de discussão das direções, mas para a ação revolucionária de milhões de homens. O expurgo do sectarismo e dos sectários incorrigíveis das fileiras da Quarta Internacional é a mais importante condição para o sucesso revolucionário.”

Apesar do sarcasmo e da ironia da polêmica, sei que o companheiro é valoroso. O companheiro pode evoluir muito. Mas por isso mesmo sou obrigado a lhe abrir os olhos. Deve fazer uma autocrítica para o bem da própria LC e da FCT. Quanto a mim, seguirei fazendo intervenção basicamente no PT e na CUT, impulsionando uma Tendência Operária Socialista, para ajudar na luta contra a direita, o golpismo, o fascismo e o marcartismo, defendendo os direitos dos trabalhadores contra terceirização, contra os ataques do “Ajuste econômico” de Levy e o Congresso Nacional. 

Fraternalmente, ERWIN WOLF

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